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Thiago Neves: De Maestro a Mentor – A Visão do Ex-Fluminense para a Base Nacional
Por Redação FutFlu em 12/11/2025 12:55
A figura de Thiago Neves, outrora sinônimo de lances geniais, assistências precisas e gols decisivos nos gramados brasileiros, agora se projeta para um papel distinto. O ex-meia, que encantou torcedores por duas décadas, almeja firmar-se como um catalisador de mudanças na estrutura de formação do futebol nacional. A partir de 2026, ele visa aplicar uma filosofia cuidadosamente elaborada, fruto de uma preparação intensiva.
Sua jornada para essa nova função incluiu a obtenção de duas licenças pela CBF ? a Licença B para treinadores e um curso em gestão esportiva ?, além de uma especialização na Fundação Getúlio Vargas. As experiências práticas foram igualmente cruciais, com períodos de observação no renomado programa de La Masía, do Barcelona, onde acompanhou de perto o trabalho de Deco, e um futuro estágio no Bahia. Tais imersões forjaram uma convicção inabalável sobre o caminho a seguir.
"Estou entrando de cabeça nas categorias de base e tentando ajudar os clubes nesse processo de formação. Unindo tudo que já passei dentro de campo e o conhecimento que estou adquirindo da minha formação nacional e internacional. Estive no Barcelona e vi que ainda temos muito a evoluir se quisermos ter melhores atletas, melhor jogo e melhor sistema. Não existe outro jeito: é investir na formação e na capacitação dos atletas e dos profissionais", declarou Thiago Neves, delineando a essência de sua proposta.
A Transição de Campo para a Gestão: Thiago Neves e a Formação de Base
A transição do atleta de elite, com mais de 600 partidas em clubes como Fluminense, Flamengo, Cruzeiro, Grêmio e Sport, e conquistas internacionais pelo Al-Hilal, para a gestão esportiva, é pavimentada por uma rica tapeçaria de vivências. Thiago Neves, que encerrou sua carreira em 2021, transformou cada lance, cada decisão, dentro e fora dos gramados, em lições valiosas para sua nova empreitada como diretor.
A maturidade adquirida ao longo de uma trajetória marcada por momentos de brilho e controvérsias confere-lhe uma perspectiva singular. "Na minha carreira, eu tive muita polêmica, muita coisa fora de campo da qual me arrependo. Às vezes até dentro de campo. Sair, dar uma entrevista errada e atrapalhar todo um ambiente. Essas coisas vão te dando casca, bagagem", confessou o ex-jogador, revelando a profundidade de sua autocrítica.
Essa honestidade sobre seu passado é a base de sua abordagem pedagógica. Ele acredita que seus próprios erros e acertos lhe conferem a credibilidade necessária para orientar os jovens. "Se eu pudesse sentar e conversar com um atleta vendo a atitude dele, falaria com propriedade o que está fazendo certo, errado e no que posso ajudar. Por ter vivido a carreira que vivi, tenho autoridade para sentar com um atleta e mostrar qual é o melhor caminho. 'Eu passei por isso, fiz isso e comigo deu errado. Não faz isso'", exemplificou, sublinhando a força do testemunho pessoal.
A Autoridade da Experiência: Lições de uma Carreira Complexa
O tom reflexivo de Thiago Neves substitui agora a imagem de atleta por vezes impulsivo. Suas referências para a gestão provêm tanto de figuras que o dirigiram quanto de colegas de campo, evidenciando uma busca por modelos de liderança eficazes. Entre os nomes que ele destaca estão Rodrigo Caetano, ex-dirigente do Fluminense no título de 2012 e atual coordenador executivo de seleções masculinas da CBF; Juan, ex-zagueiro e coordenador técnico da CBF; e Fabinho Soldado, ex-volante e executivo de futebol do Corinthians.
Ao ser questionado sobre como o "diretor Thiago Neves" abordaria o "jogador Thiago Neves" em situações cotidianas, a resposta revela uma metodologia focada no diálogo e na compreensão. "Boa pergunta. Acho que na conversa. Foi assim com todos os diretores que eu tive. Eu reconhecia quando errava e, na maioria das vezes, os diretores não vinham com punição. Vinham, perguntavam se eu achava que fiz certo. Era na conversa. Eu sou assim. Procuro primeiro conversar e saber qual o problema para tentar resolver. Pretendo ser assim também: entender qual o problema para ajudar o atleta", explicou, enfatizando a importância da escuta ativa.
Ele reconhece que um dos maiores obstáculos na gestão de categorias de base reside na administração das expectativas e da resiliência dos jovens. "O mais difícil é lidar com aqueles que estão jogando pouco. Como você faz para manter a cabeça dele focada para continuar treinando porque a oportunidade vai chegar. Esse é o maior desafio", afirmou, apontando para a complexidade psicológica envolvida na formação de atletas.
Desafios da Liderança: O Diretor Thiago Neves e a Psicologia do Atleta
Embora o modelo europeu, exemplificado pela estrutura do Barcelona, sirva como baliza para as aspirações de Thiago Neves, ele está ciente das profundas distinções logísticas e culturais que permeiam o cenário brasileiro. A questão social dos atletas, que frequentemente se veem compelidos a priorizar o futebol em detrimento da educação formal, emerge como um dos grandes desafios a serem superados no processo formativo.
Para Thiago Neves, a solução passa pela construção de uma equipe multidisciplinar e coesa, onde todos os profissionais compartilhem a mesma visão e metodologia. "É você montar uma equipe muito boa e ter profissionais que estejam com o mesmo pensamento. Tem que ser sério, todos com o mesmo pensamento desde o sub-13, com a mesma ideia e forma de trabalhar. Isso facilita tudo. Quando sobe do 13 para o 15, tem uma filosofia de trabalho que segue até o profissional", detalhou. Ele ressalta ainda a relevância de envolver os pais dos atletas, buscando compreender e auxiliar nas questões pessoais, integrando a família ao projeto de desenvolvimento.
Essa abordagem sistêmica, que prioriza a continuidade e a uniformidade da filosofia de trabalho, mesmo diante das inevitáveis trocas de treinadores na equipe principal, é vista como um pilar para o progresso. A tendência de ex-jogadores migrando para cargos de gestão, como D'Alessandro no Internacional, Victor no Atlético-MG e Paulinho no Mirassol, reforça a crença de Neves de que essa nova geração pode impulsionar o futebol brasileiro. "É o que a gente quer ver e fazer. Tentar fazer com que o nosso futebol brasileiro melhore. Perder essa imagem que parou no tempo, que o europeu é melhor. Acho que é por isso que os jogadores que estão parando estão entrando nesse cargo. Porque sabem que a gente pode fazer alguma coisa para melhorar o futebol brasileiro", concluiu, expressando uma visão otimista e ambiciosa para o futuro.
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