Soteldo Brilha, Fluminense Vence Grêmio e Encerra Jejum de Vitórias Visitantes no Brasileirão

A recente vitória do Fluminense por 2 a 1 sobre o Grêmio, em Porto Alegre, na última terça-feira, transcendeu o mero resultado de campo. Representou a superação de marcas significativas, um alívio para a equipe e, em particular, para um de seus atletas mais questionados. Os números 111 e 402, antes símbolos de uma seca incômoda, transformaram-se em emblemas de redenção.

O Tricolor Carioca, após 111 dias sem um triunfo como visitante, finalmente reencontrou o caminho da vitória longe de seus domínios. Contudo, o protagonista da noite foi, sem dúvida, Soteldo. O ponta venezuelano, alvo de críticas incessantes da torcida, encerrou um jejum de gols que se estendia por 402 dias, protagonizando uma performance que remeteu aos seus melhores momentos. Com este resultado, o Fluminense ascendeu à quinta posição na tabela do campeonato.

A exibição de Soteldo foi ainda mais notável por quebrar um tabu pessoal: desde novembro de 2019, o ano de maior destaque em sua carreira, ele não marcava dois gols em uma mesma partida. Do lado gremista, a partida foi marcada por um ímpeto ofensivo considerável, mas que raramente se traduziu em oportunidades claras de gol. A equipe, em sua ânsia de atacar, frequentemente se expunha taticamente, cometendo equívocos na proximidade da área adversária.

As Escolhas Táticas e as Formações Iniciais

As escalações iniciais revelaram as estratégias e as limitações de ambos os treinadores. Pelo Grêmio, Mano Menezes promoveu o retorno de Gustavo Martins, que formou a dupla de zaga com Wagner Leonardo, deixando Kannemann no banco. No ataque, a ausência de Amuzu e Carlos Vinícius abriu espaço para Alysson e André Henrique, com Pavón deslocado para a ponta-esquerda. Edenílson foi preterido em favor de Willian na meia-central.

No Fluminense , Luis Zubeldia precisou lidar com os desfalques de Thiago Silva e Canobbio. Ignácio e Soteldo assumiram a titularidade, enquanto Hércules foi poupado, iniciando a partida entre os reservas. O meio-campo foi composto pela dupla de volantes Nonato e Martinelli, peças fundamentais na engrenagem tricolor.

O Enredo do Primeiro Tempo: Estratégia e Eficácia Tricolor

A tática do Fluminense na etapa inicial pareceu clara: suportar a pressão inicial do Grêmio com uma defesa compacta e, progressivamente, avançar para construir suas próprias jogadas ofensivas. A execução dessa estratégia merece elogios, mesmo com o time da casa demonstrando maior volume de jogo e tendo um gol de André Henrique anulado nos acréscimos. A precisão, no entanto, foi o diferencial do lado carioca.

A abertura do placar, aos 18 minutos, veio com uma dose de fortuna e a intervenção do VAR, que levou quatro minutos para confirmar a validade do lance. O traçado das linhas indicou que Lucho Acosta e Wagner Leonardo estavam na mesma linha, validando a jogada. O argentino, em uma infiltração astuta após passe em profundidade de Samuel Xavier, iniciou a ação que culminou no gol. Kevin Serna recebeu de Lucho e cruzou para Soteldo, que finalmente encerrou seu longo jejum. A jogada evidenciou a movimentação inteligente de Lucho Acosta, que, ao receber a bola no chão, orquestrava os ataques tricolores.

Acosta constantemente buscava espaços vazios atrás da linha de meio-campo gremista, evitando os confrontos diretos com os volantes adversários e distribuindo a bola com sagacidade. Martinelli e Nonato atuaram como excelentes "sócios" nessa distribuição de passes pelo centro do campo. Pelas laterais, Renê e Samuel Xavier avançavam pontualmente com precisão, enquanto Serna e Soteldo adicionavam volúpia e intensidade pelos flancos. Apesar da eficácia carioca, a presença ofensiva do Grêmio foi inegável, com agressividade nos movimentos e velocidade na circulação da bola. Contudo, a equipe pecava na finalização, com erros de precipitação ou devido ao bom posicionamento da defesa grená. Alysson, apesar de sua entrega, foi o que mais falhou no terço final do campo.

Alysson operava predominantemente aberto pela direita, enquanto Marcos Rocha se mantinha mais recuado na saída de bola, mas efetuava avanços pontuais por dentro. Willian tentava tabelas e triangulações próximas, e pela esquerda, Pavón e Marlon alternavam entre atacar abertos ou ocupar o espaço entre Samuel Xavier e Ignácio. Arthur, no papel de regente, era responsável por levar a bola ao ataque. Além do gol anulado de André Henrique, as melhores chances gremistas foram de Pavón, com Fábio realizando uma defesa crucial em um chute forte da entrada da área e, em seguida, o camisa 7 finalizando com perigo próximo à trave esquerda.

O Segundo Tempo: Soteldo Brilha Novamente e a Reação Gremista

O início da etapa complementar trouxe um momento de preocupação para o Fluminense , com erros de passe de Freytes na saída de bola. Um desses equívocos, logo nos primeiros minutos, resultou em uma "caneta" de André Henrique, que quase empatou a partida. Contudo, uma inversão tática de Zubeldia, que trocou os lados de Serna e Soteldo, surtiu efeito imediato no primeiro ataque do Fluminense após o intervalo.

Kevin Serna recebeu aberto pela esquerda, tabelou com Renê e cruzou rasteiro. Com um toque de calcanhar de Everaldo e uma assistência precisa de Lucho Acosta, Soteldo, de canhota, marcou um belíssimo segundo gol para o Fluminense . A vantagem de dois gols, no entanto, durou pouco. Em um lapso de desatenção em cobrança de escanteio, menos de dois minutos depois, André Henrique subiu sozinho para desviar de cabeça o cruzamento de Willian, diminuindo a diferença. O gol gremista intensificou ainda mais o ritmo da partida.

Alyssoon, com deficiências na marcação, foi substituído por Cristaldo, que entrou como meia-central. Pavón passou para a ponta-direita e Willian para a esquerda. O Grêmio, embora exposto taticamente, persistia na busca pelo empate com agressividade, mas a irregularidade técnica na proximidade da área continuava a ser um problema. Os erros frequentes cediam transições rápidas ao Fluminense , especialmente com Soteldo e Serna, que teve a oportunidade de marcar o terceiro após um chute cruzado de Lucho Acosta, mas desperdiçou.

A Batalha Final e a Resiliência Tricolor

Aos 23 minutos do segundo tempo, Zubeldia iniciou as substituições para renovar o fôlego da equipe, introduzindo Keno e Ganso nos lugares dos destaques Acosta e Soteldo. Pouco depois, Lima e Hércules entraram nas vagas de Kevin Serna e Nonato . Mano Menezes, por sua vez, realizou suas quatro alterações restantes em um curto espaço de tempo: Cuellar, Aravena, Jardiel e Edenílson substituíram Dodi, Willian, André Henrique e Pavón, respectivamente.

Edenílson trouxe um pouco mais de precisão ao Grêmio na finalização dos ataques, participando de dois lances que resultaram em finalizações perigosas de Jardiel e Aravena. Jardiel, em uma oportunidade clara, acertou a trave e perdeu uma chance crucial para o empate. O Fluminense , com as alterações, perdeu parte de seu potencial de contragolpe e não conseguiu reter a posse de bola com a mesma eficácia. No entanto, a proteção da área carioca se mostrou bastante eficaz nos minutos finais, com destaque para a atuação dos laterais e as intervenções seguras de Ignácio.

Nos acréscimos, Thiago Santos foi acionado no lugar de Samuel Xavier , buscando elevar a estatura da defesa visitante e inibir o jogo aéreo gremista. Mesmo assim, o Grêmio quase empatou em um lance aéreo com Gustavo Martins, mas Fábio garantiu a vitória tricolor com uma defesa espetacular. A derrota complicou ainda mais as aspirações do Grêmio por uma vaga na Pré-Libertadores, dependendo agora de um tropeço do Internacional contra o São Paulo para manter uma mínima esperança de alcançar a oitava posição.