Fluminense: Zubeldía Detalha Obstáculos na Base e a Pressão sobre Jovens Talentos

A tradição do Fluminense em moldar estrelas do futebol, com nomes como Marcelo e Thiago Silva emergindo de Xerém, é inegável e reverenciada globalmente. Contudo, a presente temporada tem gerado questionamentos sobre a escassa utilização de jovens promessas, um tema que o técnico Luis Zubeldía abordou com franqueza em recente entrevista.

A torcida tricolor manifesta preocupação com a ausência de espaço para atletas como Julio Fidelis e Davi Schuindt, enquanto Riquelme se destaca como a rara exceção a ser aproveitada pelo comando técnico. Essa postura de Zubeldía ecoa, em certa medida, a abordagem de seu antecessor, Renato Gaúcho, que igualmente demonstrou parcimônia em integrar os jovens valores ao elenco principal.

Em declarações recentes ao "ge", o estrategista argentino lançou luz sobre os desafios inerentes ao desenvolvimento de talentos no cenário contemporâneo. Ele apontou uma aceleração prejudicial no processo de amadurecimento dos atletas. "O que acontece é que o processo hoje em dia no futebol está muito rápido. Não te deixam formar com tranquilidade os jogadores juvenis. Por quê? Porque jogam duas partidas, o jogador já pensa que tem que jogar como titular. Já pensa que é estrela. Porque todo o entorno lhe faz crer que é a figura, o melhor", detalhou Zubeldía, com uma crítica incisiva.

A Complexidade da Transição: Pressões Externas e Expectativas Imediatas

O treinador prosseguiu, abordando a pressão externa que cerca esses jovens, que muitas vezes distorce a percepção da realidade e do próprio processo de formação. E ele complementou, abordando a pressão externa que cerca esses jovens: "Como o treinador não te coloca no time? É um burro, não te coloca, como não te coloca? E vem o empresário, o pai, a mãe, o irmão, os meios de comunicação, as redes sociais e fazem o mesmo. Como cuidar do processo desse garoto?! É muito difícil para o treinador".

A autoridade de Zubeldía para discorrer sobre o tema é inquestionável, dada sua trajetória profissional. Sua carreira como jogador foi precocemente interrompida por uma lesão no joelho esquerdo, o que o impulsionou a iniciar sua jornada como técnico nas categorias de base do Lanús aos 23 anos. Essa experiência moldou sua visão, e ele sempre defendeu a integração de jovens atletas, desde que no tempo e na forma adequados.

Foto: (Wagner Meier/Getty Images)

Zubeldía e a Virtude da Paciência na Lapidação de Talentos

O técnico argentino fez questão de esclarecer qualquer equívoco sobre sua predileção por atletas experientes, reiterando sua filosofia de valorização da base. "As pessoas não sabem. Pensam que não gosto de usar jogadores da base. Posso dizer que minha virtude número um, tempos atrás, era usar jogadores da base. Mas está difícil por isso, porque os tempos são cada vez mais rápidos. Não estão deixando fazer um trabalho tranquilo. Riquelme é um jogador que precisa de formação. Se nos derem tempo, ele pode ser um grande jogador. Mas precisa de tempo", enfatizou, citando Riquelme como um exemplo claro de jovem que necessita de um desenvolvimento gradual e paciente.

A análise de Zubeldía revela um cenário desafiador para a formação de atletas, onde a pressa e as influências externas podem comprometer o potencial de futuras estrelas. Para que Xerém continue a ser uma fonte inesgotável de craques, é imperativo que o ambiente permita o amadurecimento gradual e o desenvolvimento técnico e psicológico dos jovens, longe da pressão por resultados imediatos ou do brilho efêmero de uma fama precoce.