1. FutFlu

Mamelodi Sundowns: O Legado Controverso e a Filosofia "Piano" Antes de Enfrentar o Fluminense no Mundial

Por Redação FutFlu em 25/06/2025 09:52

Nesta quarta-feira, no palco do Hard Rock Stadium, em Miami, o Mamelodi Sundowns da África do Sul se prepara para um confronto decisivo contra o Fluminense, válido pela terceira rodada do Mundial de Clubes. Ao pisarem no gramado, os atletas sul-africanos exibirão um uniforme predominantemente amarelo e calções azuis, uma vestimenta que evoca instantaneamente a imagem da seleção brasileira. E, de fato, essa semelhança não é mera coincidência; ela é o cerne de uma identidade cuidadosamente construída e permeada por uma história rica em peculiaridades.

A Filosofia "Shoeshine and Piano": A Alma do Mamelodi Sundowns

Antes de mergulharmos nas origens de seu visual "canarinho", é fundamental compreender a essência tática que molda o Mamelodi Sundowns: o conceito de "Shoeshine and Piano". Esta filosofia de jogo, singular no futebol mundial, foi introduzida por Stanley "Screamer" Tshabalala, um treinador que revolucionou a abordagem tática do clube. Sua inspiração surgiu em meados dos anos 1980, após uma imersão nas estruturas de gigantes italianos como Milan, Inter de Milão e Juventus.

Durante essa jornada pela Itália, Tshabalala notou a recorrência da palavra "piano" nas instruções de um técnico aos seus jogadores, e também ouviu um termo que ressoava como "engraxar". Conforme esclarecido pelo próprio site oficial do Mamelodi Sundowns, a interpretação de "piano" dentro do contexto do clube sul-africano não se refere a "desacelerar" isoladamente, mas sim à expressão "piano piano", que significa "pouco a pouco" ou "passo a passo".

"Quando Screamer chegou, ele queria que jogássemos futebol de 'toque'. Engraxar e piano se encaixam perfeitamente com essa abordagem. O sistema envolve construir a partir da defesa, passar a bola ao redor do campo e manter as coisas simples, mantendo o controle do jogo", explicou Trott Moloto, que atuou como auxiliar de Screamer, e que faleceu em julho de 2024.

Essa abordagem tática prioriza a construção paciente das jogadas desde a defesa, uma troca de passes fluida e a manutenção constante do controle da posse de bola. É um estilo que busca a simplicidade e a precisão, refletindo a metáfora de "engraxar" (polir, aperfeiçoar) e "piano" (avançar progressivamente), conferindo ao Mamelodi Sundowns uma identidade de jogo distinta e reconhecível.

A Herança "Brasileira" e a Figura Enigmática de Zola Mahobe

A marcante conexão visual com o Brasil e o apelido "Brazilians" têm suas raízes na visão de Zola Mahobe, uma figura empresarial singular e de comportamento extravagante. Foi ele quem, em 1985, adquiriu a agremiação estabelecida em Pretória no ano de 1970. Mahobe não apenas cunhou para a equipe o epíteto de "Brazilians", como também foi o responsável por introduzir o icônico uniforme amarelo e azul.

Conhecido também pelo apelido de "Mr. Cool" ? ou "Senhor Maneiro", em tradução livre ?, Mahobe era percebido como um indivíduo que desfrutava intensamente dos prazeres da vida. A procedência de sua fortuna, contudo, permanecia obscura. Era de conhecimento público que ele injetava vultosas somas no clube, atraindo para suas fileiras os atletas mais proeminentes do cenário sul-africano. Sua gestão, que durou apenas três anos, culminou em sua detenção, acusado de sustentar sua vida opulenta e o próprio clube através de fundos ilícitos, subtraídos dos cofres do Standard Bank, o maior conglomerado bancário do continente, por intermédio de sua companheira.

A história de Mahobe o transformou em uma espécie de lenda folclórica no futebol sul-africano. Conforme detalhado em uma reportagem de 2014 pela revista independente Roads & Kingdoms, ele ostentava uma impressionante frota de veículos e diversas residências, além de ter sido o primeiro indivíduo negro a ser aceito como membro do prestigioso clube de corridas de cavalos Newmarket, em Johanesburgo. Os elementos que compõem sua trajetória geram uma percepção mista de admiração e repulsa.

O Escândalo Financeiro que Chocou a África do Sul

A trama que levou à queda de Zola Mahobe começou a se desenrolar em 1987. Enquanto tentava adquirir um automóvel Mercedes-Benz na Alemanha, foi informado de que a compra seria mais vantajosa se realizada na África do Sul devido a questões cambiais. A concessionária, então, contatou uma filial sul-africana para prosseguir com a transação, que seria finalizada por meio de uma transferência bancária via Standard Bank.

No entanto, a instituição financeira iniciou uma investigação interna que revelou um esquema de desvio de fundos liderado por Mahobe. Sua namorada, Snowy Moshoeshoe, que trabalhava como caixa no banco, atendia às solicitações de transferências bancárias do empresário, desviando dinheiro de contas de outros clientes. No dia da investigação crucial, Moshoeshoe estava de folga, o que facilitou a descoberta do esquema fraudulento.

Foram desviados impressionantes 3 milhões de dólares, um valor consideravelmente alto para a época, por meio de 93 transações fraudulentas. Após a descoberta, Mahobe empreendeu fuga para Botsuana. As autoridades chegaram a oferecer uma recompensa monetária por sua captura. Contudo, após nove meses, ele foi localizado e extraditado para a África do Sul para enfrentar a justiça.

Consequências, Legado e a Trajetória do Clube Pós-Escândalo

Levado a julgamento em julho de 1988, Zola Mahobe argumentou em sua defesa que acreditava que os fundos eram provenientes de vendas de terras no Lesoto, realizadas pela família de Moshoeshoe, dado que sua namorada era descendente do Rei Moshoeshoe. Apesar de sua alegação, ele foi condenado a uma pena de 29 anos de prisão em 12 de janeiro de 1989, cumprindo 16 anos na prisão de Barberton, localizada em Mpumalanga.

Durante seu período de encarceramento, Mahobe converteu-se ao islamismo. A propriedade do Mamelodi Sundowns foi então repassada ao Standard Bank, que, por sua vez, vendeu o clube para Angelo e Natasha Tischlas. Angelo, co-proprietário, faleceu tragicamente em um acidente de carro em 24 de outubro. Posteriormente, a administração do casal foi complementada por uma parceria com os irmãos Krok, empresários e filantropos notáveis, cujos empreendimentos incluíam a comercialização de cremes clareadores de pele durante a era do apartheid. Atualmente, o Mamelodi Sundowns está sob a propriedade de Patrice Motsepe, um bilionário do setor de mineração.

Assim, a história do Mamelodi Sundowns é um mosaico complexo de ambição, inovação tática, escândalos financeiros e uma evolução contínua na sua propriedade. À medida que se preparam para enfrentar o Fluminense , os "Brazilians" sul-africanos trazem consigo não apenas um uniforme icônico, mas uma narrativa profunda que os distingue no panorama do futebol global.

Curtiu esse post?

Participe e suba no rank de membros

Comentários:
Recentes:
Bruno

Bruno

Nível:

Rank:

Comentado em 25/06/2025 11:23 Mano, o Sundowns vem com esse esquema piano, mas nosso Flu tá no ritmo, bora ganhar fácil!
Ranking Membros em destaque
Rank Nome pontos

Erro ao carregar vídeos do YouTube.