Fluminense Supera Botafogo: Zubeldía e Tática Vencedora Quebram Tabu no Clássico

A chegada de Luis Zubeldía ao comando técnico do Fluminense foi marcada por um início promissor. À beira do campo, o enérgico treinador testemunhou sua nova equipe prevalecer em um clássico, quebrando um incômodo tabu. Contudo, atribuir-lhe integralmente os méritos pela construção do resultado seria precipitado. Na verdade, a principal contribuição do argentino na vitória por 2 a 0 sobre o Botafogo, no último domingo, reside em sua perspicácia de não interferir no que já funcionava e em manter uma convicção tática que se revelou fundamental para o desfecho positivo.

Com apenas dois dias de trabalho, era natural que a estrutura herdada da gestão anterior, sob Renato Gaúcho, fosse mantida. Neste contexto, sua única alteração na escalação inicial ganha destaque. A relação de amizade entre Cano e Zubeldía, que remonta aos primórdios de suas carreiras no Lanús, pode ter influenciado uma decisão crucial: a entrada do camisa 14 em detrimento de Everaldo. O técnico confiou em um atleta com quem possui familiaridade, e a aposta rendeu frutos. Cano, embora não apresentasse um desempenho muito distinto do que mostrava com o antecessor, brilhou na sua maior virtude em comparação a Everaldo : o instinto artilheiro.

O Acerto Tático e a Virada de Chave Tricolor

A inteligência em não desmantelar o que funcionava se manifestou de forma evidente no segundo gol do confronto. Uma das críticas dirigidas a Renato Gaúcho no embate contra o Lanús foi a substituição de Hércules por Otávio, justificada por exaustão do titular. Aceitável. Mas a manutenção de Lima no banco, dada a necessidade do jogo, parecia incoerente. A atuação do jogador contra o Botafogo confirmou essa percepção. O gol não apenas resgata um atleta valioso para o elenco, mas também sublinha um acerto da comissão técnica permanente e de Zubeldía.

Mais do que focar exclusivamente em Zubeldía, é imperativo reconhecer que esta vitória representa um ponto de inflexão. Vencer um clássico logo na estreia é um excelente augúrio, e estancar a série de resultados adversos contra o Botafogo era crucial. O triunfo, acima de tudo, proporciona a tranquilidade necessária para este estágio inicial do trabalho. Com as semifinais da Copa do Brasil a apenas dois meses de distância, o tempo é exíguo. Embora não tenha sido neste jogo, quanto mais a identidade de Zubeldía se manifestar em campo, melhor será para o Fluminense .

A decisão de escalar Cano como titular contra o Botafogo pode ser interpretada como uma das primeiras marcas de Zubeldía. Como já mencionado, é prematuro falar em "dedo do treinador". Contudo, se a dificuldade em converter chances era um problema latente, apostar no principal goleador do time faz todo o sentido. E, por ser um jogador com menos desgaste físico que Everaldo , sua presença no segundo tempo, quando o ritmo da partida naturalmente se intensifica devido ao cansaço, também se mostra uma escolha tática justa.

A Leitura Defensiva e a Reação Ofensiva

Não que o atacante argentino tenha tido uma atuação impecável. Pelo contrário. Mas suas características, diferentes das de Everaldo , mostraram-se essenciais, principalmente sua capacidade de finalizar. Cano, que teve uma partida de grande dedicação na marcação, mas com muitos erros técnicos, aproveitou a única oportunidade clara que teve para abrir o placar para o Fluminense . Isso ocorreu em um momento em que o Botafogo apresentava um desempenho superior. Newton, com um chute no travessão, e Vitinho, que parou em Fábio, criaram as melhores oportunidades para o adversário.

O Fluminense , por sua vez, exibiu uma aproximação maior entre os jogadores através de tabelas, um aspecto que se distanciava do estilo de Renato Gaúcho. Desta troca de passes, especialmente entre Hércules e Lucho Acosta, surgiu a jogada que culminou no gol de Cano. Essas interações foram observadas com mais frequência ao longo da primeira etapa, envolvendo diversos atletas. Além disso, a equipe tricolor demonstrou uma capacidade notável de antecipar e neutralizar as investidas do Botafogo. Em um único momento de desatenção, Freytes surgiu como herói, salvando um gol certo de Savarino. A equipe também competiu com eficácia nas bolas aéreas contra Chris Ramos e Arthur Cabral, com Thiago Silva, líder inquestionável, prevalecendo na maioria das infiltrações. Foi, em suma, uma atuação sólida do Fluminense .

Gestão da Vantagem e Projeções Futuras

Com a vantagem consolidada no intervalo, a principal incógnita pairava sobre a postura do Fluminense na etapa complementar. A resposta foi igualmente positiva. Ao manter sua identidade de jogo, o time conseguiu conter o ímpeto inicial do Botafogo e assegurou que o controle da partida não escapasse de suas mãos. A experiência do elenco também pesou, permitindo usar o placar a seu favor para acalmar os ânimos e evitar que a intensidade excessiva dominasse as ações.

A partida se desenrolou como um verdadeiro xadrez tático entre Zubeldía e Davide Ancelotti. Primeiramente, o técnico do Botafogo inseriu Matheus Martins para explorar o cansaço de Samuel Xavier, e a manobra surtiu efeito. A resposta do comandante tricolor foi a entrada de Guga, que conseguiu reequilibrar o setor. Em seguida, o alvinegro buscou aproveitar a fadiga de Lucho Acosta para explorar o meio-campo. Do banco, Lima surgiu como o antídoto perfeito. Sua entrada não apenas conteve o avanço do Botafogo, mas também adicionou intensidade, aprimorando a ligação com o ataque. O segundo gol do Fluminense é fruto de uma pressão bem-sucedida que força o adversário a rifar a bola; na sequência, Lima recebe um passe preciso de Martinelli e, com tranquilidade, finaliza para as redes.

Com este triunfo, o Fluminense alcançou 34 pontos na tabela, ascendendo à oitava colocação. Neste momento, a equipe se encontra a oito pontos de distância do Mirassol, o primeiro clube no G-4 do Brasileirão, com um jogo a menos disputado no campeonato. A vitória não apenas encerra um ciclo de resultados adversos, mas estabelece uma base sólida para o desenvolvimento do trabalho de Zubeldía e a busca por objetivos maiores na temporada.