Fluminense: Demissão de Técnico Estrangeiro por Amizade com Renato Gaúcho Revelada

A chegada de Luis Zubeldía ao comando técnico do Fluminense marca um ponto de inflexão na história recente do clube. Após 28 anos, o Tricolor volta a confiar as rédeas de sua equipe principal a um treinador estrangeiro, um feito que o consagra como o décimo quinto profissional de fora do Brasil a assumir tal responsabilidade, e o primeiro neste século. Contudo, a expectativa em torno do argentino nos leva a revisitar um passado peculiar, onde o último antecessor estrangeiro de Zubeldía, também em substituição a Renato Gaúcho, teve uma passagem tão breve quanto enigmática.

O Retorno Estrangeiro: Uma Nova Era no Fluminense?

A nomeação de Zubeldía não é apenas uma escolha técnica; é um statement, um rompimento com quase três décadas de uma preferência nacional que, por vezes, não entregou os resultados esperados. O cenário atual, portanto, convida a uma reflexão sobre as experiências anteriores com técnicos estrangeiros, muitas delas marcadas por passagens curtas e, em alguns casos, controversas. A ironia do destino revela que, antes do atual argentino, o último a ocupar a prancheta tricolor foi Hugo de León, ex-zagueiro uruguaio e ícone do Grêmio, cuja trajetória nas Laranjeiras se encerrou de maneira dramática.

De León, campeão da Conmebol Libertadores em 1983 como capitão gremista, assumiu o Fluminense em 1997. Sua estadia, entretanto, não durou mais que meros 20 dias. A imprensa da época, em suas análises e bastidores, apontava um motivo inusitado para sua precoce demissão: a suposta proximidade com Renato Portaluppi. O uruguaio, segundo relatos, era considerado "amigo demais" do então atacante tricolor, uma relação que, ao invés de fortaleza, tornou-se um calcanhar de Aquiles em um período de grande instabilidade no clube.

Hugo de León: A Breve Gestão Marcada pela Amizade

A figura de Renato Gaúcho, autor do memorável "gol de barriga" no Campeonato Carioca de 1995, exercia uma influência considerável nos corredores do Fluminense . Sua presença era tão marcante que, no início de 1997, esteve perto de uma saída que não se concretizou. Em uma curiosa manobra promovida pela Federação Paulista de Futebol, Renato chegou a ser anunciado pelo São Paulo, posou para fotos e concedeu entrevistas, mas, dias depois, reverteu a decisão, optando por permanecer no time das Laranjeiras.

Essa forte influência de Renato se estendia aos bastidores, especialmente em um clube que vivia um final de década de 90 particularmente conturbado, sob a presidência de Álvaro Barcelos. Hugo de León, companheiro de Renato em múltiplas conquistas pelo Grêmio, encontrou-se em uma posição delicada. Reportagens do período indicam que a reunião que selou a demissão do técnico uruguaio foi uma das raras ocasiões em que Renato Gaúcho não esteve presente. Em sua efêmera passagem, De León comandou a equipe em apenas três confrontos: uma vitória por 2 a 1 sobre o Botafogo (Estadual), uma derrota por 4 a 1 para o Palmeiras (Brasileiro) e um empate em 1 a 1 com o Cruzeiro (Brasileiro).

Os Bastidores de 1997: Influência e Turbulência no Tricolor

O desempenho abaixo do esperado no início do Campeonato Brasileiro selou o destino de Hugo de León. Sua saída, tão rápida quanto inesperada, não foi capaz de reverter o cenário sombrio que culminaria no rebaixamento do Fluminense em 1997. Pouco tempo após a partida do técnico uruguaio, Renato Gaúcho também deixou o clube, desta vez de forma definitiva, para vestir a camisa do rival Flamengo. Aquele ano, portanto, ficou marcado não apenas pela turbulência esportiva, mas também pelas intrigas e influências nos bastidores que moldaram o futuro tricolor.

O episódio de Hugo de León, em 1997, parece ter deixado uma "má impressão" duradoura, pois nas décadas seguintes, o Fluminense evitou a contratação de técnicos estrangeiros. Agora, a responsabilidade de dissipar essa percepção recai sobre Zubeldía, que busca escrever um novo capítulo. Curiosamente, o último técnico argentino antes dele foi José Omar Pastoriza, em 1985. Apesar de um currículo invejável, com conquistas de Libertadores e Mundial pelo Independiente no ano anterior, sua passagem pelas Laranjeiras foi igualmente breve e apagada.

Legados Estrangeiros: De Ondino Vieira a Pastoriza

A história do Fluminense , contudo, também guarda memórias de sucesso com treinadores estrangeiros. O uruguaio Ondino Vieira é um exemplo notável. Comandando o clube entre o final da década de 1930 e o início da de 1940, Vieira repetiu o feito de seu compatriota Carlos Carlomagno, guiando o Tricolor à glória do tricampeonato carioca em 1938, 1940 e 1941. Sua gestão, que se estendeu por cinco anos, até 1943, representa um dos períodos de maior estabilidade e conquistas sob a batuta de um técnico não-brasileiro.

A chegada de Zubeldía, assim, não é apenas um retorno a uma prática distante, mas também um convite a revisitar as diversas facetas dessa relação do Fluminense com o comando técnico estrangeiro, desde os pioneiros até as experiências mais recentes e controversas. A tabela a seguir detalha todos os técnicos estrangeiros que já passaram pelo Fluminense , ilustrando a rica e, por vezes, tumultuada história do clube.

Panorama Histórico: Todos os Técnicos Estrangeiros do Fluminense